Triunfo do Xingu evita desmatamento e promove recuperação de uma das regiões mais desmatadas do Brasil

O projeto REDD+ AUD foca em evitar a pressão da grilagem e da pecuária e reforça a importância do fortalecimento das comunidades locais

Localizado no município de Altamira, na região Sul do Pará, o Projeto Agrupado REDD+ Triunfo do Xingu (TdX) é um dos esforços da Systemica para proteger e restaurar uma das áreas da Amazônia com maior taxa de desmatamento acumulado do país. O TdX está inserido na Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, que embora tenha a classificação de área protegida, sofre desde a década de 1990 com pressão intensa de desmatamento pela mineração, grilagem e pecuária, o que demonstra a importância da existência do projeto para manter a floresta em pé.

“O projeto começou em agosto de 2022, a partir de uma reunião com a população da Vila Caboclo, comunidade rural no entorno da área de projeto. A partir dos modelos de projeção de desmatamento da Systemica, identificamos na parte norte da APA uma enorme pressão de desmatamento, e então iniciamos as interlocuções com proprietários da região no Pará para desenvolvimento de projeto REDD+ AUD (evitamento de desmatamento não planejado)”, explica Thiago Viscondi, coordenador do projeto.

A pressão da pecuária é forte e compõe grande parte da receita econômica da região, e a intenção do projeto é evitar que os produtores locais entrem no ciclo de desmatamento causado pela atividade. “A ideia é que os produtores não percam suas terras para invasores, grileiros, e não precisem vender parte da terra que acabaria sendo desmatada. De acordo com nossos estudos bibliográficos, de campo e de imagens de satélite, entendemos que o que é perdido de floresta vira pecuária, existe muito pouca conversão do solo para outras atividades, como a agricultura”, completa.

Transparência e integridade do desenvolvimento técnico e das atividades socioambientais são essenciais para o futuro do projeto

O projeto abrange uma área de 10.636,02 ha, e atualmente está sob processo de validação do padrão VCS e desenvolvimento para o padrão CCB, com previsão de verificação para o início de 2024. Além de trazer infraestrutura e benefícios sociais e de governança para a Vila Caboclo, comunidade incluída no TdX, o projeto tem como objetivo a preservação da floresta, manutenção do bioma a longo prazo e a viabilização de investimentos na comunidade local.

Para garantir a integridade do projeto, a Systemica investiu em um desenvolvimento robusto sob a metodologia de AUD VM0015 do VCS, definindo cuidadosamente a região de referência, e sendo conservadora com as projeções do desmatamento a ser evitado a partir do projeto e suas atividades.

“Um modelo de previsão de desmatamento tem basicamente duas partes: passado e futuro. O passado é a parte dos dados históricos que são usados para prever um futuro, baseado em modelos matemáticos. Para isso, é preciso delimitar uma região de referência e um período histórico. Uma prática ruim que muitas vezes é adotada é a inflação de projetos AUD, na qual proponentes oportunistas escolhem a fronteira espacial da região de uma forma fictícia, pegando o máximo de taxa de desmatamento possível para inflar os números depois. Essa não é uma prática adotada pela Systemica: a área escolhida para o projeto não foi inflada, ela é infelizmente de fato muito desmatada. O fato de estarmos trabalhando com uma área tão ameaçada mostra que de fato o projeto é importante. Não estamos só gerando crédito, estamos gerando impacto”, analisa Thiago.

Contrapartidas sociais focam em infraestrutura e fortalecimento da governança local

Um dos requisitos do padrão CCB Gold para comunidade, certificação que o projeto busca alcançar, é que a comunidade esteja com ao menos 50% de sua população em um nível abaixo da linha de pobreza nacional. A Vila Caboclo é marcada por essa vulnerabilidade socioeconômica, o que reforça a necessidade do projeto e o habilita a ter um maior nível de impacto real.

“Agora estamos em fase de estudos para entender quais as urgências e prioridades para melhorar a vida da população local. Uma das dificuldades para nosso diagnóstico foi o período de chuvas, que isola ainda mais o território e dificulta que a população tenha acesso à cidade de São Félix do Xingu, a mais próxima à região do projeto”, explica Thiago.

Em questão de infraestrutura, o projeto já levantou que uma das principais carências é a falta de energia elétrica legalizada e sinal estável de telefonia. “Inicialmente, pensamos em levar energia elétrica mais estável, com painéis solares e internet por satélite. Falando de outras necessidades, teremos atividades de doação de equipamentos escolares e para o posto de saúde, além de uma atividade de horta escolar, atacando a questão da insegurança alimentar e a falta de acesso a variedade de alimentos”, completa o especialista.

Quando não existem alternativas econômicas, desmatar se torna uma das poucas fontes de renda da população. Para mudar esse cenário, o projeto estuda alternativas econômicas e fortalecimento da comunidade como um todo.

“Estamos considerando fazer cursos de capacitação para a vila, tentando mapear o que dará frutos ali, como artesanato, corte de cabelo e produção de farinha. Gerar renda é gerar independência. Outro ponto é o direito de acesso à cultura. A comunidade demonstrou um desejo grande de ter algum lazer, algum lugar que possam reunir as pessoas para se divertirem. A pobreza tira acesso a lazer e cultura, e lá hoje as pessoas só têm um campinho de futebol e um bar”, explica.

Painel de biodiversidade foca na preservação de espécies com potencial de extinção

No primeiro semestre de 2023, o projeto iniciou as atividades de biodiversidade, com o inventário de fauna e flora. Em seguida, o time técnico da Systemica realizou uma auditoria interna garantindo a qualidade dos estudos e aguarda a auditoria dos inventários por uma terceira parte independente.

“Ainda estamos esperando pelos resultados, mas a previsão é o que se espera em geral do território amazônico: espécies ameaçadas e uma enorme biodiversidade precisando de proteção e vigilância dos entornos do território. Hoje, apenas aproximadamente 65% da parte norte da APA está coberta por floresta, 15% a menos do que o previsto por lei”, finaliza Thiago.

Imagem de Equipe Systemica

Equipe Systemica

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