O projeto REDD+ APD conserva 5,14 mil hectares de florestas nativas e tende a crescer futuramente
Localizado no município de Itacoatiara, o Amazon Biome Conservancy (ABC) Grouped REDD+ Project é um dos esforços da Systemica para conservar e proteger a biodiversidade do território amazônico. O projeto APD fica nas imediações da região metropolitana de Manaus, grande foco de desenvolvimento econômico do estado.
Ainda em seu primeiro ano de implementação, o projeto REDD+ conserva 5,14 mil hectares de florestas nativas. “O projeto, que evita desmatamento planejado, foi iniciado em novembro do ano passado. Já fizemos uma auditoria de campo para validação VCS (Verified Carbon Standard, padrão de qualidade do mercado voluntário), e estamos concluindo esse processo para aprovação em breve da Verra”, explica Rodrigo Camargo, coordenador do projeto dentro da Systemica.
Quando falamos do mercado de carbono, é essencial que o projeto tenha longevidade e consiga de fato causar um impacto mensurável no local. “Como o ABC é um projeto agrupado, podemos adicionar novas instâncias nele. Inicialmente ele começou com um conjunto de sete lotes próximos à Vila Lindóia, mas pode abarcar um território maior ao longo dos anos. Isso assegura que o projeto será duradouro e com permanência no futuro. Queremos trazer a maior quantidade de instâncias possíveis para que ele fique maior, traga mais dinheiro para as comunidades e promova o monitoramento da biodiversidade. Tudo isso traz valor para o projeto”, analisa Bibiana Duarte, diretora técnica da Systemica.
Por ser um projeto APD, a ideia é evitar o desmatamento planejado dentro de uma determinada área privada. De acordo com a lei brasileira, proprietários de terra dentro do território amazônico podem desmatar até 20% do local. “O cenário de base que a gente evita é que o proprietário desmate essa área. Inicialmente fazemos todo o processo de auditorias para saber se não há irregularidades e se a propriedade do território está de fato demonstrada.. Em seguida, a ideia é apresentar alternativas econômicas para que esse proprietário possa lucrar sem utilizar a terra para as atividades alternativas, como gado ou exploração madeireira”, explica Rodrigo.
De acordo com o PRODES, projeto que monitora o desmatamento da Floresta Amazônica, o estado do Amazonas, onde está localizado o projeto ABC, já perdeu 33.384,00 km2 da floresta tropical, sendo o ano de 2022 recorde desde 1998, com 2,6 mil km2 desmatados. No ranking de desmatamento do PRODES, Itacoatiara, município do projeto, é o município do estado do Amazonas com a 6ª maior área desmatada. Em proporção, é o 3º município mais desmatado, com 20,81% da toda vegetação removida, indicando uma grande pressão para o aproveitamento econômico da região.
“Nosso papel é mostrar para proprietários o papel dos projetos de carbono. Em vez de realizar desmate e emissão de gás carbônico, ele pode ter uma receita pela preservação de floresta. Preservando a floresta, você protege o bioma. Temos que dar uma alternativa palpável para que manter a floresta em pé seja mais interessante economicamente do que desmatar”, completa.
Contrapartidas sociais trazem soberania para comunidades locais e fortalecem desenvolvimento econômico
O projeto cumpre dez Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil (ODS), instituídos pela ONU para garantir o alcance sócio-econômico de ações no país: 3: Saúde e Bem-Estar; 4: Educação de Qualidade; 5: Igualdade de Gênero; 8: Emprego Digno e Crescimento Econômico; 9: Indústria, Inovação e Infraestrutura; 10: Redução de Desigualdades; 12: Consumo e Produção Responsáveis; 13: Combate às Mudanças Climáticas; 15: Vida terrestre; 17: Parcerias e Meios de Implementação.
Em novembro de 2022, foi desenhado um diagnóstico social inicial da região do projeto, com o objetivo de entender quais são as lideranças comunitárias e principais necessidades da população em termos de saúde, infra-estrutura e carências econômicas. As comunidades mais relevantes para o projeto foram identificadas como sendo a comunidade de Nossa Senhora de Nazaré, que habita a Vila Lindóia, e a comunidade de Visconde de Mauá.
“Ainda estamos definindo quais são as contrapartidas sociais necessárias para as comunidades, especialmente por se tratar de uma região muito povoada, densa, um aglomerado humano. Inicialmente, estamos pensando em trazer ações de infraestrutura, atividades de compostagem e conscientização ambiental, fortalecer a frente de mulheres das comunidades e pensar em ações voltadas para a saúde”, explica Rodrigo. “Nesse projeto temos uma política clara de distribuição de benefícios, garantindo a conversão territorial e a melhoria na qualidade de vida das comunidades que circundam as propriedades, com melhorias na saúde e educação. A ideia é alterar a região como um todo”, completa Munir Soares, sócio-fundador da Systemica.
Proteção da biodiversidade e conscientização da população são ações chave dentro do bioma amazônico
No primeiro semestre de 2023, a equipe responsável pelo projeto realizou o inventário florestal e de fauna do ABC. Ambos são essenciais para cumprir os requisitos do projeto. O inventário florestal consegue, a partir do levantamento de dados primários do estoque de biomassa acima do solo e das espécies florestais na área escolhida, quantificar a redução de emissão dos gases de efeito estufa que seriam emitidos na ausência do projeto.
Já o inventário de fauna é fundamental para a definição do plano de monitoramento de fauna do projeto, que além das atividades de conservação e da certificação VCS, visa impactar a biodiversidade local e certificar o impacto através do padrão. O inventário visou apontar os dados levantados referente a identificação de espécies de três grupos zoológicos: herpetofauna, avifauna e mastofauna. Foi possível identificar algumas espécies gatilho de potencial monitoramento, como: jacamim-das-costas-verdes (Psophia viridis), anta (Tapirus terrestres), tartaruga-arara (Peltocephalus dumerilianus) e macaco-aranha-da-cara-preta (Ateles chamek).
“Semanalmente, uma pessoa fará a ronda de todos os 5.040 hectares para conferir a segurança do perímetro do projeto e o monitoramento e vigilância da área. A intenção é que nosso inventário florestal seja até mais rigoroso do que é exigido hoje pelos órgãos ambientais do Amazonas, identificando espécies que correm risco de extinção e que possuem alto valor de conservação. Também queremos conscientizar a população para que não haja caça de espécies vulneráveis”, completa Rodrigo.